Introdução: Motivos e Método

O principal motivo de estarmos fazendo este trabalho diz respeito ao sofrimento de muitos irmãos que vivem sob o peso dos olhares de muitos dos demais crentes. Também pelo fato de vermos o Evangelho tão diminuído, tão menos autêntico em nossas próprias vidas. Desde criança, quando aprendemos as primeiras histórias verdadeiras nos flanelógrafos das EE BB FF por esse Brasil afora também aprendemos as lendas, superstições e crendices, fruto, na maioria das vezes, do desconhecimento da interpretação ou interpretações que são possíveis de se chegar, com relação aos textos vários que víamos sempre discutidos ao nosso redor.

Temos sido crentes já nascidos de novo com idéias absurdas e, principalmente, com maneiras erradas de tratar aos irmãos que agem e pensam diferente de nós. O Evangelho nos leva ao amor e o amor nos faz ver com outros olhos aos nossos irmãos. Se em pecado, assim mesmo buscamos sua saúde com maneiras boas, assim como o Samaritano cuidou das feridas da pobre vítima, que bem poderia ser um pecador necessitando de arrependimento.

A teologia moderna, especialmente depois de teólogos como Barth, Tillich e Bultmann tem tentado achar soluções e às vezes cai em erros grosseiros. Por exemplo, não estamos propondo aqui o que busca a Ética Situacional, onde os fins é que interessam e fazem uma interpretação errada da aplicação do amor. Realmente é o amor o caminho para nossas ações e o apóstolo Paulo mostrou ser o caminho excelente para praticarmos os dons e ele mesmo, o amor é o fruto do Espírito que se manifesta em tantas nuâncias benéficas, mas o amor não pode, como quer a Ética Situacional, ser a bússola neste caminho. A bússola é a Palavra de Deus, objetivamente considerada. Tão pouco salientaremos, numa busca de considerarmos as culturas e o tempo presente e de como agir neste mundo sem fugir para um convento ou uma caverna, que a Teologia da Secularização está correta. Jamais deveríamos trocar as provas científicas mal entendidas pela objetividade da Palavra de Deus; jamais pensarmos que hoje as coisas sendo tão diferentes é necessário um evangelho diferente ou até mesmo desmitificado, até chegar ao cúmulo de pensar que o homem evoluindo no saber também conseguiu sua própria salvação a partir da ciência e do conhecimento multiplicado. De maneira nenhuma também trocaremos a verdade da “tempestade à vista” como escreveu B. Graham, pela visão de um “mundo novo”, seja alimentado por “soma” ou pela alegria infundada dos teólogos da libertação, ou ainda – que vexame, se cairmos por um pouco nisto – pela diabólica mensagem de libertação eminente vinda dos Ets ou da salvação da Nova Era de Aquários!! Da mesma maneira não vamos deixar a exegese, a hermenêutica e outras ciências aplicadas ao estudo da Bíblia e adjutoras da teologia, em prol de um misticismo doentio, experiencialismo gerador de heresias , lendas e superstições. Não vibraremos descuidadosamente ao lermos parágrafos inteligentíssimos e interessantíssimos, mas puros silogismos teológicos que buscam provar que a Bíblia não é a Palavra de Deus inspirada verbal e plenáriamente, nem nos deixaremos tocar por dúvidas trazidas pela crítica formal que prega a compilação da Igreja dando resultado os Evangelhos. Mas iremos avante com coragem de estudar os manuscritos e fazermos da manuscritologia uma serva da Palavra de Deus. Iremos avante erguendo alto a bandeira da Reforma mas também continuando sua luta: Igreja Reformada sempre se reformando!

Baseados no que temos dito e na maneira despretensiosa de nos achegarmos à Palavra de Deus propomos buscarmos com bom senso e equilíbrio e com autêntico amor vivenciarmos o Evangelho. Iremos apresentar nossa maneira de interpretar textos difíceis e ter paciência com quem não interpreta da mesma forma. Iremos saber da possibilidade de exceções dadas por Deus para alguns casos e como Jesus aplicou a lei. Nem todo que mata é assassino e descumpriu o mandamento de não matar. Nem todo que julga, segundo o fruto, conhecendo a árvore, é um condenador de homens. Seremos que já temos maturidade para entendermos que um grande pregador, considerado como príncipe dos últimos séculos, fumava sem pecar? Ou que muitos crentes hoje, que bebem cerveja podem estar sem pecado enquanto os que tomam o escândalo para si pecam? Será que estamos preparados para compreendermos porque na casa de Lutero tinha uma fábrica de cerveja, concessão difícil de conseguir na época e que sua esposa conseguiu por causa da influência de Lutero? E o que dizer da dança? Se uma pessoa dança com outra em uma festa qualquer ou em sua casa e não é seu cônjuge não é bem diferente de um casal de cônjuges que dançam juntinhos e fazem menos do que fazem na cama? Ou de noivos que tomam o mesmo cuidado de não extrapolarem como o fazem quando estão sozinhos na sala de uma casa? Ou será que pecam os que dançam hoje na Igreja porque a “coreografia” é bem diferente das brincadeiras das antigas sociais de 30 anos atrás, quando se cantava ”a carrocinha pegou três cachorros de uma vez” ou “fui na bahia buscar meu chapéu... é da morena que quero bem” e quando se davam as mãos e rebolavam à vontade no salão da mocidade? Será que pecam os jovens que, quando crianças, cantavam na Escola Dominical canções com gestinhos, palminhas, marchinhas e pulinhos e hoje fazem gestos, dão pulos, palmas e rebolam muito quando se enfileiram numa marcha pelos corredores do templo?

Temos o direito de agirmos segundo o que interpretamos mas o outros têm o direito de agirem segundo o que interpretam. E, com certeza, se estes nossos irmãos são de fato discípulos de Jesus, darão o fruto suficiente para descobrirmos que podemos estar em comunhão com eles.

A exegese.
Desejo explicar um pouco melhor a respeito deste método que estou seguindo. É um método bem particular. Quando tenho um assunto assim muito importante para estudar e concluir o que realmente a Bíblia fala, procuro fazer como Descartes, é como se nada tivesse sido escrito antes, nenhum comentário, nenhuma exegese. Vou então para a Bíblia e começo a ler em Gênesis e vou até Apocalipse. É claro que nem sempre leio palavra por palavra, mas vou de parágrafo em parágrafo, folheando e parando onde o texto traz qualquer palavra sobre o assunto ou ao redor do assunto. Assim a exegese tem o início não nas palavras específicas mas no todo da revelação de Deus. Depois fecho mais o círculo e volto a folhear a Bíblia do princípio ao fim separando textos sobre o assunto global mais próximo. Por exemplo, primeiramente estudei sobre os princípios gerais relacionados com famílias e com o matrimônio. Agora nesta fase que se inicia com o gráfico da próxima página estarei demonstrando o resultado de uma busca específica sobre matrimônio e família. O cerco está se fechando. Haja fichas para catalogar todos os textos. Depois vem a união de tudo numa harmonia dos temas e vou para outra fase, a da exegese própria, como é conhecida. Desta feita estou laborando em terrenos da Teologia Bíblica. Partindo dos textos específicos no grego e hebraico vamos buscar a tradução e o sentido do texto a as conclusões hermenêuticas, indo mais além do que o título sugere, pois na verdade é um trabalho hermenêutico que utiliza a exegese.