Introdução: Motivos e Método

O principal motivo de estarmos fazendo este trabalho diz respeito ao sofrimento de muitos irmãos que vivem sob o peso dos olhares de muitos dos demais crentes. Também pelo fato de vermos o Evangelho tão diminuído, tão menos autêntico em nossas próprias vidas. Desde criança, quando aprendemos as primeiras histórias verdadeiras nos flanelógrafos das EE BB FF por esse Brasil afora também aprendemos as lendas, superstições e crendices, fruto, na maioria das vezes, do desconhecimento da interpretação ou interpretações que são possíveis de se chegar, com relação aos textos vários que víamos sempre discutidos ao nosso redor.

Temos sido crentes já nascidos de novo com idéias absurdas e, principalmente, com maneiras erradas de tratar aos irmãos que agem e pensam diferente de nós. O Evangelho nos leva ao amor e o amor nos faz ver com outros olhos aos nossos irmãos. Se em pecado, assim mesmo buscamos sua saúde com maneiras boas, assim como o Samaritano cuidou das feridas da pobre vítima, que bem poderia ser um pecador necessitando de arrependimento.

A teologia moderna, especialmente depois de teólogos como Barth, Tillich e Bultmann tem tentado achar soluções e às vezes cai em erros grosseiros. Por exemplo, não estamos propondo aqui o que busca a Ética Situacional, onde os fins é que interessam e fazem uma interpretação errada da aplicação do amor. Realmente é o amor o caminho para nossas ações e o apóstolo Paulo mostrou ser o caminho excelente para praticarmos os dons e ele mesmo, o amor é o fruto do Espírito que se manifesta em tantas nuâncias benéficas, mas o amor não pode, como quer a Ética Situacional, ser a bússola neste caminho. A bússola é a Palavra de Deus, objetivamente considerada. Tão pouco salientaremos, numa busca de considerarmos as culturas e o tempo presente e de como agir neste mundo sem fugir para um convento ou uma caverna, que a Teologia da Secularização está correta. Jamais deveríamos trocar as provas científicas mal entendidas pela objetividade da Palavra de Deus; jamais pensarmos que hoje as coisas sendo tão diferentes é necessário um evangelho diferente ou até mesmo desmitificado, até chegar ao cúmulo de pensar que o homem evoluindo no saber também conseguiu sua própria salvação a partir da ciência e do conhecimento multiplicado. De maneira nenhuma também trocaremos a verdade da “tempestade à vista” como escreveu B. Graham, pela visão de um “mundo novo”, seja alimentado por “soma” ou pela alegria infundada dos teólogos da libertação, ou ainda – que vexame, se cairmos por um pouco nisto – pela diabólica mensagem de libertação eminente vinda dos Ets ou da salvação da Nova Era de Aquários!! Da mesma maneira não vamos deixar a exegese, a hermenêutica e outras ciências aplicadas ao estudo da Bíblia e adjutoras da teologia, em prol de um misticismo doentio, experiencialismo gerador de heresias , lendas e superstições. Não vibraremos descuidadosamente ao lermos parágrafos inteligentíssimos e interessantíssimos, mas puros silogismos teológicos que buscam provar que a Bíblia não é a Palavra de Deus inspirada verbal e plenáriamente, nem nos deixaremos tocar por dúvidas trazidas pela crítica formal que prega a compilação da Igreja dando resultado os Evangelhos. Mas iremos avante com coragem de estudar os manuscritos e fazermos da manuscritologia uma serva da Palavra de Deus. Iremos avante erguendo alto a bandeira da Reforma mas também continuando sua luta: Igreja Reformada sempre se reformando!

Baseados no que temos dito e na maneira despretensiosa de nos achegarmos à Palavra de Deus propomos buscarmos com bom senso e equilíbrio e com autêntico amor vivenciarmos o Evangelho. Iremos apresentar nossa maneira de interpretar textos difíceis e ter paciência com quem não interpreta da mesma forma. Iremos saber da possibilidade de exceções dadas por Deus para alguns casos e como Jesus aplicou a lei. Nem todo que mata é assassino e descumpriu o mandamento de não matar. Nem todo que julga, segundo o fruto, conhecendo a árvore, é um condenador de homens. Seremos que já temos maturidade para entendermos que um grande pregador, considerado como príncipe dos últimos séculos, fumava sem pecar? Ou que muitos crentes hoje, que bebem cerveja podem estar sem pecado enquanto os que tomam o escândalo para si pecam? Será que estamos preparados para compreendermos porque na casa de Lutero tinha uma fábrica de cerveja, concessão difícil de conseguir na época e que sua esposa conseguiu por causa da influência de Lutero? E o que dizer da dança? Se uma pessoa dança com outra em uma festa qualquer ou em sua casa e não é seu cônjuge não é bem diferente de um casal de cônjuges que dançam juntinhos e fazem menos do que fazem na cama? Ou de noivos que tomam o mesmo cuidado de não extrapolarem como o fazem quando estão sozinhos na sala de uma casa? Ou será que pecam os que dançam hoje na Igreja porque a “coreografia” é bem diferente das brincadeiras das antigas sociais de 30 anos atrás, quando se cantava ”a carrocinha pegou três cachorros de uma vez” ou “fui na bahia buscar meu chapéu... é da morena que quero bem” e quando se davam as mãos e rebolavam à vontade no salão da mocidade? Será que pecam os jovens que, quando crianças, cantavam na Escola Dominical canções com gestinhos, palminhas, marchinhas e pulinhos e hoje fazem gestos, dão pulos, palmas e rebolam muito quando se enfileiram numa marcha pelos corredores do templo?

Temos o direito de agirmos segundo o que interpretamos mas o outros têm o direito de agirem segundo o que interpretam. E, com certeza, se estes nossos irmãos são de fato discípulos de Jesus, darão o fruto suficiente para descobrirmos que podemos estar em comunhão com eles.

A exegese.
Desejo explicar um pouco melhor a respeito deste método que estou seguindo. É um método bem particular. Quando tenho um assunto assim muito importante para estudar e concluir o que realmente a Bíblia fala, procuro fazer como Descartes, é como se nada tivesse sido escrito antes, nenhum comentário, nenhuma exegese. Vou então para a Bíblia e começo a ler em Gênesis e vou até Apocalipse. É claro que nem sempre leio palavra por palavra, mas vou de parágrafo em parágrafo, folheando e parando onde o texto traz qualquer palavra sobre o assunto ou ao redor do assunto. Assim a exegese tem o início não nas palavras específicas mas no todo da revelação de Deus. Depois fecho mais o círculo e volto a folhear a Bíblia do princípio ao fim separando textos sobre o assunto global mais próximo. Por exemplo, primeiramente estudei sobre os princípios gerais relacionados com famílias e com o matrimônio. Agora nesta fase que se inicia com o gráfico da próxima página estarei demonstrando o resultado de uma busca específica sobre matrimônio e família. O cerco está se fechando. Haja fichas para catalogar todos os textos. Depois vem a união de tudo numa harmonia dos temas e vou para outra fase, a da exegese própria, como é conhecida. Desta feita estou laborando em terrenos da Teologia Bíblica. Partindo dos textos específicos no grego e hebraico vamos buscar a tradução e o sentido do texto a as conclusões hermenêuticas, indo mais além do que o título sugere, pois na verdade é um trabalho hermenêutico que utiliza a exegese.

Capítulo 1 – Da Genealogia à Tentação de Cristo

Abordagem cronológica de toda a Revelação,
envolvendo os princípios gerais, e relacionando-os ao matrimônio.


Textos gerais sobre a vida cristã lidos de tal forma que se aplique ao matrimônio, à vida no lar e assuntos pertinentes. O método escolhido leva-nos a iniciar a leitura nos Evangelhos, por ser a exegese do Novo Testamento.


Um passo importante na introdução de nossa exegese é agora lermos os Evangelhos e todo o restante do NT buscando alguns dos princípios de Deus, em todos os sentidos, e como é que as famílias reagiriam em cada situação da história da Revelação de Deus e como devem reagir as famílias cristãs contemporâneas:

1. Genealogia:
a. Mesmo sabendo da possibilidade de pecar e das aflições buscamos o centro da vontade de Deus.
b. Deus usa seus servos, apesar de suas limitações.
c. Deus não faz acepção de pessoas.

2. Maria e José:

a. Deus usa a quem quer e não depende de nosso mérito particular.
b. É possível ao crente viver dentro da vontade de Deus, na força do Espírito Santo.

3. A tentação de Jesus:

a. Todo casal será tentado, porque todo crente é tentado. Jesus venceu por nós e nos assiste na provação.

Capítulo 2 – As Famílias da Bíblia

O Sermão do Monte (Mt 5-7) dá ensinos para o relacionamento:

Todo casal tem nas bem-aventuranças um alvo para vitória entre si em primeiro lugar e diante dos demais membros da sociedade. O sermão do monte mostra como o relacionamento poderá ser ao ponto de não permitirem que o mundo dite suas regras destruidoras, mas que o Espírito Santo guie-os no caminho da vitória, não sem luta, renúncia e altruísmo. Assim o casal irá saber se portar no centro da vontade de Deus evitando cair na armadilha do divórcio:

a- Ser o sal da terra e a luz do mundo.

Cada membro é conclamado a viver como justificado e em tal justiça que seja além do que os literalistas fazem apenas por cumprimento da lei. As famílias estão sujeitas às mesmas intempéries e podem produzir o bem no decorrer do tempo.

Entendendo a genealogia de Cristo: visão de que Deus usou, desde o início, famílias (πατριά ) para levar Seu plano salvífico em frente:

Πατριά è Representada por Abraão
πατριά è Representada por Sete
πατριά è Representada por Adão
πατριά è Representada por Davi
πατριά è Representada por Jacó

Famílias religiosas também praticam pecados e virtudes:

Pecados: Ex.: Assassinato =>Mentira => Roubo => Adultério.
Virtudes: Ex.: Transmissão de boas notícias => Altruísmo =>Perdão => Obediência.

Mostra ainda que todas as famílias estão sujeitas às mesmas aflições e problemas da vida, principalmente: Morte – Separação – Divórcio

Por exemplo, vemos no N.T várias famílias citadas, são normais:

José e Maria: desconfianças de José, este se separa da família? Ou morre, mais tarde? Pedro, esposa e sogra (pelo menos enfermidade). Lázaro e irmãs. Timóteo, avó e mãe. Carcereiro de Filipos. Filipe, o Evangelista. O “pecador” da Ig. de Corinto. Áquila e Priscila. Cornélio.

O sermão do monte, colaborado por outros textos, ainda ensina buscar a pureza no leito sem mácula; não usar a vingança; amar a Deus e ao próximo; ser generoso para com os necessitados; buscar a Deus em oração; buscar o tesouro celestial; não viver ansiosos por causa das coisas materiais; a dádiva do perdão tem número ilimitado, isto é setenta vezes sete (Mt 18:22).

Capítulo 3 - Lendo os Milagres de Jesus

Jesus traz paz à família através da cura e da restauração.
a. Devolve filhos aos pais.
b. Devolve maridos antes leprosos às esposas e filhos.
c. Torna a vida mais suportável expulsando os demônios.
d. Acalma as tempestades.
e. Dá pão ainda que seja preciso fazê-lo sobrenaturalmente.
f. Restabelece a visão, material ou, principalmente, espiritual.

6. Lendo o relacionamento de Jesus com quem pecou:

a. Dá perdão, força para não pecar mais e livra dos preconceitos humanos : Vá e não peques mais.
b. Dá nova chance a quem o negou como Pedro.
c. Restaura o crente disciplinado na Igreja, como o homem pecador de Corinto.

Jesus ensina como lidar com o escândalo.

a. Os escribas e fariseus tomam para si o escândalo e isso não nos obriga a obedecê-los (Mt 23). Tomar o escândalo significa que alguém nos vê fazer algo lícito e que temos tranqüilidade em fazê-lo e não aceita por problemas dele e não nosso.
b. Ai de quem faz tropeçar alguém: dá o escândalo ( Mt 18:7 ). Neste caso somos responsáveis pelo escândalo verdadeiramente produzido por nós.

A doutrina da Palavra de Deus, no todo, sugere uma vida na plenitude de Deus:

a. Plenitude de salvação (Jo 10).
b. Plenitude de justificação : temos paz com Deus (Romanos)
c. Plenitude de bênçãos (Ef 1:3); de sabedoria, prudência, bom senso (Ef 1:8); plenitude no amor (Ef 1:15); de conhecimento (Ef 1:17); de poder (Ef 1:19); da presença do Espírito Santo em no casal (Ef 1:13); de garantia (Ef 1:14). Deus revela ao casal que poderá andar no Espírito e produzir o Seu fruto (Gl 5:16-25).

Primeira aplicação.

Assim já podemos fazer a primeira aplicação geral do conceito do matrimônio da Nova Dispensação:

Todas as famílias estão sujeitas às mesmas aflições e problemas da vida: morte, separação, divórcio, pois até mesmo quando um cônjuge não quer o outro pode querer. Também sujeitas ao pecado. Os casais cristãos têm à disposição os dons e as promessas de Deus que lhes permitirão possuir vida vitoriosa em Cristo, sem chegarem à separação ou ao divórcio. Deus realmente cuida de nós e proporciona-nos a plenitude de Suas bênçãos; infelizmente a maior parte vive fora destes propósitos mais sublimes.

Capítulo 4 - Revelação Inicial de Deus Sobre o Matrimônio

Mt 1:1-16
Βιβλος γενέσεως ΄Ιησου Χριστου ...

Depois de estudarmos a partir da genealogia de Cristo somos enviados por ela mesma à leitura a partir do Gênesis. A cultura e experiência dos Cristãos se baseiam na fonte judaica da Palavra de Deus, principalmente se compararmos com Lucas.

Criou Deus - Gn 1:1

1.. A gênese do matrimônio => Homem e mulher os criou, Gn 27 => E a costela transformou numa mulher e lha trouxe, Gn 2:22 =>Tornando os dois uma só carne, Gn 2:23.

2.. A necessidade do matrimônio => Não é bom que o homem esteja só - Gn 2:18.

3.. A qualidade da esposa => Auxiliadora, 2:18; idônea, 2:18; unidade carnal, 2:24; pura, 2:25.

4.. Finalidade do matrimônio => Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora, Gn 2:18


Aqui voltamos a Mateus



Como foi desde o princípio: Então respondeu Ele (Jesus): Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando os dois uma só carne? Mt 19:4,5.

No entanto houve mudanças por causa da pecaminosidade do homem como sugere o texto da genealogia:

Poligamia, aprovada por Deus como exceção: Judá gerou de Tamar, Mt 1:3.
Adultério, nunca aprovado, sempre disciplinado: Da que fora mulher de Urias, 1:6.
Casamento misto, aprovado por Deus como exceção: Salmon gerou de Raabe/ este de Rute gerou a Obede , 1:5.
Casamento misto tolerado por causa de uma situação emergencial em que o povo estava no exílio, como o de Ester: Depois do exílio em Babilônia Mt 1:12 com Et 2:17.
Casamento misto não tolerado em grande número, prejudicando a linhagem e em situação de reestruturação do povo judeu após o exílio: Lembra-te deles, Deus meu, pois contaminaram o sacerdócio como também a aliança sacerdotal e levítica, Ne 13:23-29.

Segunda aplicação geral do conceito do matrimônio da Nova Dispensação:

Foi Deus que criou o matrimônio
Uniu um só homem a uma só mulher
A instituição de Deus não foi feita para ser alterada:
Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem, Mt 19:6.
Deus aplicou em diferentes épocas sua tolerância a algumas mudanças do plano original.
Jesus sugere que é melhor buscar o plano original, Mt 19:4.

Capítulo 5 - O Exemplo da Família de Jesus

Continuando a nossa leitura vamos em frente e detectamos mais uma parte do texto que é revelação sobre o matrimônio, o lar, a familia:

Mt 1:18 ss : Του δέ ΄Ιησου Χριστου η γέννησις... etc.

Existia um casal de noivos que se tornou exemplo de como se enfrentam as crises matrimoniais e sexuais:
Eram crentes: Mas José seu esposo sendo justo, Mt 1:19. Meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador Lc 1:47.
José era sábio e bondoso: Não a querendo infamar, Mt 1:19.
José tinha os impulsos humanos normais, sem exageros: resolveu deixá-la secretamente, Mt 1:19.
Estava em plena comunhão com Deus e receptivo: Enquanto ponderava nestas cousas, eis que lhe apareceu , em sonho, um anjo do Senhor, Mt 1:20.
Deus cuidava de suas vidas: Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fará, Sl 37:5. José, filho de Davi, não temas, Mt 1:20.
José e Maria eram obedientes: despertado José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher, Mt 1:24. Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforme a tua palavra, Lc 1:38.
José e Maria se abstiveram da cópula sexual até que nascesse o menino: contudo não a conheceu, enquanto ela não deu à luz, Mt 1:25.

E que enfrentou problemas como qualquer outro casal:Porque José não aparece mais no cenário, na época do ministério de Cristo? Estava morto? Divorciado? Preso? Louco? Inválido? Ou o Espírito Santo apenas não quis registrar? E na morte de Cristo, Maria realmente não tinha esposo? Ou ele era inválido? Porque Jesus mandou que alguém cuidasse dela?

Um casal na presença de Deus: Após casados de fato viviam na presença de Deus (apresentam Jesus, fogem para o Egito, Deus sempre usava José em sonhos, etc. Cuidava de Maria, tinha profissão, pois era carpinteiro. Até Jesus ter 12 anos temos certeza que José estava em casa.


Muitas famílias tiveram seus registros realizados como revelação de Deus sobre Seu cuidado de todos:

Adão: fez a promessa e providenciou Sete para honrá-la.
Noé: achou graça perante Deus que o usou como instrumento de salvação e tipo de Cristo abençoando todas as famílias futuras.
Podemos citar ainda as famílias de Abraão, Moisés, Arão, Josué, Otniel, Débora, Gideão, Manoá, pai de Sansão, Boaz, Davi e assim por diante: Deus cuida de todas as famílias da terra.

Deus revelou o método eficiente para ser vitorioso no matrimônio e em toda a vida: ΆΓΆΠΗ (ÁGAPE) - I Co 13

Deus revelou ao crente Sua vontade para o matrimônio como Sua instituição:

Que o matrimônio foi ordenado por Deus (Gn 2:18-24; Mt 19:4-6). A respeito trato conjugal, inclusive especificamente sobre o ato sexual (I Co 7:14) e sobre o amor, especialmente do marido (Ef 5:25,28) sobre separação e divórcio (Mt 19; I Co 7), sobre o matrimônio em época de perseguição e guerra (I Co 7).

Portanto, podemos fazer a terceira aplicação geral do conceito do matrimônio da Nova Dispensação:

O casal precisa de Deus , ser servo de Deus.
Precisam vivenciar o fruto do Espírito Santo
Reconhecem que têm impulsos humanos normais e devem buscar o domínio próprio (ainda o fruto do Espírito).
Precisam cuidar devocionalmente de suas vidas: estarem em plena comunhão com Deus e receptivos a Deus.
Devem confiar de fato que Deus cuida deles.
Devem ser obedientes, quando sabem que é a vontade de Deus, mesmo que seja difícil demais e algo totalmente fora da lógica humana, como José ao ver Maria grávida e como Maria ao ouvir algo aparentemente ridículo do anjo.
Devem tratar o sexo com dignidade e se absterem da cópula sexual após o casamento em casos muito especiais e de acordo com o Senhor Deus, sabendo que não pode ser interrompido para sempre: enquanto não deu à luz um filho Mt 1:25.
A vontade de Deus pode ser cumprida pelo casal crente e o ideal do relacionamento é possível, porque o poder vem de Deus e não do homem.
O caminho sobremodo excelente que conduz o casal à vitória é o AMOR, na definição mais sublime que existe sobre ele, o amor de I Co 13.
Todo problema tem sua resolução garantida em Cristo, nem sempre de acordo com nosso coração. Mas Deus é soberano e cheio de amor e tem para nós o melhor.

Capítulo 6 - Revelação Específica. Definição de Alguns Termos

Textos bíblicos específicos a serem interpretados:

Dt 24:1-4; Mt 5: 27-32; Mt 19: 3-12; Mc 10: 2-12; Rm 7: 2,3; I Co 7

Repudiar Απολύω.

Formada pela preposição απο mais o verbo λύω traduzido como infringir (Mt 5:19), desatar (Mt 6:19), destruir (Jo 2:19), tirar (At 7:33), despedir (At 13:43), soltar (At 22:30), derrubar (Ef 2:14), desfazer (I Jo 3:8), libertar (Ap 1:5) e abrir (At 27:41).

O uso de Απολύω no NT: aparece 66 vezes com as seguintes traduções: deixar (Mt 1:19), repudiar (Mt 5:31), despedir (Mt 14:15), despachar (Mt 15:23), enviar (Mt 15:32), soltar (Mt 18:27), perdoar (Lc 6:37), deixar ir (At 16:35).

Somente pelo uso da palavra no texto já se nota que repudiar não tem conotação específica tão pejorativa aplicada ao matrimônio. O ato de despedir pode ser bom ou ruim. A Igreja despede um apóstolo e isto é bom. O patrão despede o empregado e isto é ruim para este. Para entendermos melhor os textos sobre o divórcio já poderíamos ler assim: “aquele que despedir sua esposa”... Sendo assim, se a palavra no português tem de ser “repudiar” que já tomou uma conotação especial entre nós, porque então não é traduzido que “José resolveu repudiá-la ( a Maria) secretamente? A palavra é a mesma
Απολύω mas foi traduzida por deixar. A palavra repudiar não lembra muito o fato do marido desgostar-se da esposa ou vice-versa mas de por a esposa para fora de casa, despedindo-a.


Relação sexual ilícita: πορνεία


A tradução deveria ser “prostituição” ou “fornicação”, mas os tradutores ajeitaram um pouco, talvez por causa da polêmica, e escreveram, em algumas versões, relações sexuais ilícitas, nos textos nos quais Jesus fala sobre o divórcio.
Πορνεία origina-se de Πορνεύω ,traduzido normalmente como fornicar, que por sua vez procede de Πόρνη, meretriz ou prostituta, e que se origina ainda de outra palavra, Πορνος, fornicário, dissoluto.


Salientemos como existem diferenças nas traduções. A Bíblia em espanhol, de Cipriano de Valera trás, no texto sobre o divórcio, “fuera de causa de fornicacion” em Mt 5:32. Da mesma forma em Mt 19:9. Cipriano de Valera traduziu “fornicacion” em todas as 25 vezes que aparece Πορνεία no NT. Na tradução de Almeida, revista e atualizada, lemos em Mt 5:32 “relações sexuais ilícitas”, em Mt 15:19 lemos “prostituição” para a mesma palavra. A King James II Version traduz “fornication”. Oswaldo Alves, na Tradução na Linguagem de Hoje, traduz “adultério” neste texto e em Mt 15:19 quando já existe a palavra adultério junto com a de fornicação, então a BLH traduz “outras coisas imorais”. Em Mt 19:9, texto sobre o divórcio, lemos de novo, na Almeida, “relações sexuais ilícitas” . Em Mc 7:21 lemos “prostituição”. Em Jo 8:41 em Cipriano de Valera lemos “ no somos nascidos de fornicacion” e na Almeida lemos: “não somos bastardos” ( na verdade o texto é como o de Valera, no original, porque para nós a palavra bastardo não deixa claro que estão dizendo “filhos de prostituição”.

O texto de At 15:29 é importante para nosso estudo. Os judaizantes queriam colocar carga extra sobre os gentios crentes. É claro que os apóstolos não resolveram falar com eles tudo que deveriam evitar, senão estariam enviando os dez mandamentos, para começar e outros preceitos importantes e que todo crente já sabe precisar cumprir. Por causa dos judeus, o que pedir aos gentios crentes, na época, para equilibrar as coisas. Então resolveram pedir algumas coisas que não eram muito comuns aos gentios: absterem-se das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e da prostituição ( Πορνεία ). Porque não escreveram μοιχεία ? Não era a intenção de proibir o adultério, pois isso era já óbvio, mas as relações pre-maritais e outras nem sempre são, até hoje, vistas como pecados, por muitos crentes. A BLH traduziu “não pratiquem imoralidades”, a Almeida, “relações sexuais ilícitas” , a King James, “fornication” e a Valera, “fornicacion”.

Em Gl 5:19, sobre as obras da carne lemos que são μοιχεία, Πορνεία, etc. Em vez da Atualizada traduzir adultério, prostituição ( ou fornicação), traduz: “prostituição, impureza”. Confunde agora adultério com a prostituição. E fala de impureza quando deveria dizer fornicação ou prostituição.

Esta palavra (Πορνεία), portanto, não significa adultério e sim prostituição ou fornicação. Poderá muito bem ser aplicada a relações antes do casamento, isto é, quando um homem casa-se e vê que sua esposa, quando solteira se prostituía. Veja que Jesus em Mt 19:9 diz que se alguém deixar sua esposa não sendo por causa de Πορνεία (não μοιχεία , adultério), comete adultério. Quando José pensou em deixar Maria foi porque tudo estava indicando que ela estava pecando com Πορνεία, prostituição antes do casamento. No entanto eminentes exegetas dizem enfaticamente que, ao contrário de μοιχεία, que significa adultério especificamente, Πορνεία tem um significado mais amplo, isto é, significa prostituição, fornicação e ainda outros tipos de impurezas e até mesmo o adultério pois este não deixa de ser uma fornicação, só que de pessoa casada.


Adulterar, μοιχάομαι


Aparece no NT quatro vezes (Mt 5:32, 19:9; Mc 10:11 e 12) traduzido sempre por adulterar ou cometer adultério. Origina-se de μοιχός (adúltero) que aparece três vezes no NT (Lc 18:11; I Co 6:9 e Hb 13:14). Existe ainda outra forma de palavra originada de μοιχός que é μοιχεύω, adulterar, e aparece quinze vezes no NT e finalmente a palavra μοιχεία, que aparece três vezes traduzida por adultério.

Importante notar que a Palavra de Deus coloca várias vezes a palavra fornicação (πορνεία) junto com adultério (μοιχεία)e com significados e aplicações diferentes: Vejamos os textos onde isto acontece:

Mt 15:19 (e Mr 7:21 da mesma forma): “Porque do coração procedem maus desígnios... adultérios(μοιχεία), prostituição(πορνεία)...

Ainda é bom notar que a mulher pega em adultério era casada, com certeza, e traía seu marido, por isso deveria morrer. Ninguém chegou somente perguntando se estava certo que o marido divorciasse dela. E a palavra neste texto (Jo 8:3) é μοιχεία, adultério mesmo e não prostituição e fornicação (πορνεία), pois assim estaria a mulher, solteira, se prostituindo, o que não foi o caso.



“Cousa indecente” רבד תורע


תורע Primeiro significado : nu, desvestido; em segundo lugar: vazio. Usado no texto que fala que um homem não poderia descobrir a nudez de uma mulher no tempo da “enfermidade dela” (Lv 20: 18). Usado também para “derramar”, como verbo: “derramou sua alma na morte”(Is 53:12). A mesma palavra em outra forma significa “campo seco” ou “desnudo”( Is 19:7).


רבד No texto em estudo significa “alguma coisa”.


“Cousa indecente” tem a ver, portanto, com a questão moral. Algo que envergonhava como ficar nu na frente de estranhos ou coisa parecida. Pelo contexto do AT e da cultura da época dá a entender que sejam impurezas ou qualquer tipo de ação indecorosa.

Segundo Guy Duty, em seu livro “Divórcio e Novo Casamento”, à pg. 20, alguns gramáticos hebreus mostram-se incertos quanto ao significado da palavra “indecente” neste verso. O vocábulo hebraico é רבד תורע (ervah-dover), que tinha diversas interpretações no Talmude judeu, variando de um século para outro e de um país para outro. Não poderia ser o adultério porque o mesmo era motivo de morte.

No entanto chamamos atenção para o termo no hebraico moderno, o construto de תורע que se lê הורע. No dicionário Básico – Hebraico Português, de H. Balgur e H. Lusim, lemos para הורע a seguinte tradução: ” vulva; nudez; fornicação”.

O divórcio era costume dos povos e não foi uma invenção de Moisés ou do povo judeu. O texto de Dt 24:1- 4 sugere que:
a. Não estava Moisés aqui instituindo o divórcio mas considerando a sua existência e a possibilidade de alguém fazer uso do divórcio por causa de achar coisa indecente na mulher : “Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado cousa indecente ( רבד תורע ) nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na mão e a despedir de casa”.
b. A finalidade principal do texto citado é a de declarar ser considerado abominação perante o Senhor o fato da mulher voltar a se casar com o primeiro marido, novamente. Podemos fazer a seguinte pergunta: abominação porque Deus a considerava antes de todos ou por que era considerado errado na cultura dos povos da época e Deus seria desonrado com tal prática?

c. O divórcio e a poligamia. O JUDEU NAO PODIA DIVORCIAR-SE EM QUASE NENHUM CASO: Isso se levarmos em consideração a interpretação mais radical desde a época de Moisés e que Jesus outorgou como sendo a que mais coadunava com o espirito da Lei. Mas na época era comum a poligamia e era aceita pelas leis civis. Acontecia, portanto que, moral e espiritualmente, a esposa anterior era rejeitada em função da nova que chegava. Muitas vezes isso poderia significar que o marido nem mesmo a procuraria mais no sentido sexual ou seria relegada a segundo plano o que levava a conseqüências bem diferentes das de hoje, senão vejamos:

i. O marido podia resolver seu problema de incompatibilidade ou outro qualquer simplesmente arranjando outra mulher, desde que permanecesse civilmente casado e sustentasse a esposa espiritual e moralmente repudiada.

ii. A esposa repudiada extra-oficialmente tinha a tristeza de sentir e ver-se trocada por outra e tudo "legalmente" e ainda, teria de conviver com o fantasma da tentação para o adultério, um dos motivos de se ter eunucos nos haréns.

iii. O divorcio era difícil de ser consentido, pela lei, mas não divorciar-se, para o homem poderia, portanto, significar apenas continuar a dar a pensão e moradia a esposa.

iv. O homem que tinha problema em seu casamento e podia sustentar outra esposa, o que era possível na maioria dos casos, pois não havia o consumimos de hoje, não enfrentava o problema do abrasamento, estando casado e sem estar com a vida sexual ativa, pois logo casava-se com a segunda esposa, caso não divorciasse.

v. Hoje a realidade é totalmente diferente. Casais que não tem vida normal, sexualmente falando, sabendo que não lhes é permitido o divórcio, ainda que o ideal seja o perdão, a fé e o sacrifício, mas não conseguindo, vivem abrasados e muitos mais sujeitos à tentação sexual.

vi. A mulher hoje não é mais objeto de posse do homem como naquela época e isso trouxe outros parâmetros que aumentam a intolerância da mulher frente a casos em que é tratada indignadamente.
vii. O crente, tanto a esposa quanto o esposo, hoje tem mais dever de buscar o bem para seu matrimonio, pois vivem na dependência da graça de Deus. No entanto, não conseguindo ter tal vida de fé fica-lhes mais difícil manter o casamento que na época do Antigo Testamento.
d. Na época de Jesus os judeus não eram unânimes a respeito do divórcio. O matrimônio para o judeu era um dever sagrado. A mulher para a lei judia era um objeto e carecia de direitos legais e o divórcio acabava sendo uma fatalidade, baseada em Dt 24: 1-4.

Capítulo 7 – A Questão da Lei Moral

Μη νομίσητε ότι ηλθον καταλυσαι τον νόμον η τους προφητας ...

“Não penseis que vim revogar a lei e os profetas”


Estabelecimento das leis fundamentais do Reino:

Lemos em Carlos Erdman, em seu comentário ao livro de Mateus:

“O Sermão do Monte é o discurso supremo da literatura mundial... Se estabelece as leis fundamentais do Reino, mas se as separássemos da pessoa divina e da obra redentora de Cristo, encheria o coração do ouvinte de perplexidade e desespero. Revelam um ideal divino e uma norma perfeita de conduta, segundo os quais todos os homens se condenam como pecadores, e que os homens podem alcançar somente com a ajuda divina. Poderia ser chamado “O sermão da Justiça Verdadeira”, porque o tema do mesmo é a justiça que o Rei exige.”


Estabelecendo uma justiça perfeita, que vai além da dos fariseus:

Jesus mostra que a justiça do Reino de Deus vai muito além das formalidades dos fariseus que faziam apenas na aparência ou seguindo estritamente a letra da lei.


As ilustrações da interpretação de Jesus da lei moral:

O sexto mandamento, o perfeito cumprimento da lei do homicídio(Mt 5:21-26).; o sétimo mandamento O perfeito cumprimento da lei do adultério (Mt 5: 27-32 ); os juramentos - A perfeita maneira de agir com relação aos juramentos(Mt 5: 33-37); ainda a respeito da vingança (Mt 5:38-42), do amor ao próximo (Mt 5: 43-48), da prática da justiça (Mt 6: 1), das esmolas (Mt 6:2-4), etc.

“Jesus propõe... ilustrações de sua interpretação da lei moral em contraste com as interpretações dos escribas e fariseus. Estes se ocupavam somente do exterior; Jesus relaciona toda a ação com o motivo e propósito subjacentes. A primeira ilustração é tomada da lei contra o homicídio. O fariseu supunha que não havia quebrado o sexto mandamento sempre que tivesse suas mãos limpas do sangue de seu irmão. Jesus, entretanto, afirma que mesmo a ira já era uma infração deste mandamento, porque se lhe fosse permitido se manifestar por meio de ações levaria ao homicídio. Indica três expressões deste mal e propõe para cada uma delas um castigo cada vez mais severo. Quem se ira contra seu irmão corre o perigo de que o tribunal local o condene. Aquele que denigre e deprecia ao seu irmão com um insulto poderá Ter de comparecer perante o tribunal supremo mas aquele que expressa sua ira com injúrias manifestas e acusações de impiedade estará exposto ao sofrimento do inferno. É assim o perfeito cumprimento da lei do homicídio que Jesus exige”.


“Jesus aplica o mesmo raciocínio ao sétimo mandamento. Afirma que é quebrado não somente com um ato pecaminoso mas também com qualquer desejo impuro”.

Imaginemos se a Igreja for disciplinar quem se ira contra seu irmão. Quando Jesus chamou Herodes de raposa estava pecando? A interpretação é que nem sempre quando cumprimos na letra o mandamento estamos livres de estar pecando e nem sempre que aparentemente descumprimos a letra do mandamento estaremos pecando. Agora aplicar isso a tudo, inclusive ao caso de adultério é difícil para o crente que já carrega o preconceito. O cumprimento da lei de forma perfeita é algo portanto que diz respeito ao íntimo da pessoa e de sua comunhão com Deus que conhece o mais íntimo de nosso ser.

Se aqueles que interpretam as palavras de Jesus com total legalidade e literalidade com relação ao divórcio considerassem da mesma forma quanto aos outros exemplos ou ilustrações que Cristo dá neste sermão, todos estariam em muito apuro. Assim como não é para jurar, em princípio, mas existe o tempo de jurar e não pecar; Jesus fala categoricamente para não jurar. No entanto sabemos que os Cristãos têm jurado e feito muitos votos, inclusive na Igreja. É claro que Jesus está condenando a maneira farisaica de chegar ao juramento colocando nas palavras um poder mágico que não têm. E no dia-a-dia não é necessário sair por aí jurando mas dizer sim para o sim e não para o não.

Assim como não é para chamar ninguém de tolo, mas alguém poderá fazê-lo um dia sem pecar, como Jesus chamou Herodes de raposa ( Lc 13:38); assim como é pecado se vingar, mas poderá haverá momentos de fazer uma represália a alguém com sã consciência; assim como é necessário amarmos a todos mas poderá chegar o momento de manifestarmos nossa disciplina que o amor manifesto não seja reconhecido por quem é disciplinado, assim também não é para separar-se qualquer casal sobre a terra mas poderá chegar um dia de um casal fazer isso por vários problemas e pecados e terem de se casar novamente para não viverem abrasados. Jesus mostra que a nossa justiça deve muito exceder a dos fariseus, isto é, no caso de divórcio, por exemplo, é muito difícil o caso que não deveria ser resolvido através de reconciliação, se seguirmos o sentido do Evangelho, mas não podemos deixar de aceitar as exceções e temos de deixar de julgá-las nos outros condenando-os quando não se sentem condenados diante de Deus.

Capítulo 8 - Um Conceito Difícil de Praticar

Mt 19:11 Nem todos são aptos para receberem este conceito.

Quando Jesus enunciou a condição dos casados os discípulos ficaram intrigados e disseram a Jesus que convinha então nem se casar. Jesus respondeu que nem todos são aptos para receberem este conceito. Aqui temos uma passagem difícil de entender pois Jesus dizia que nem todos estavam aptos para receberem o conceito de que não se pode divorciar por qualquer motivo ou o conceito de que é bom ficar solteiro?

O apóstolo Paulo disse também algo parecido com relação a ficar sem mulher, que dependeria de possuir ou não a dádiva dom. Temos, no final das palavras de Jesus uma expressão que dá força à segunda interpretação, isto é, de receberem o conceito de ficarem solteiros. Trata-se da expressão “Quem é apto para o admitir, o admita”. Vamos ver como ficaria das duas maneiras, mas antes estudemos melhor os termos no original.

Jesus porém lhes respondeu: nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do Reino do Céus. Quem é apto para o admitir, o admita.

Apto (1ª vez)= χωρουσιν , pres. de χωρέω, dar mental admissão a, aceitar, compreender, entender; levar, conter; abrir lugar no coração para; descer, vir; ter lugar.

Receber = δέδοται perf. pass. de δίδωμι, dar, oferecer, conceder, etc.

Apto(2ª vez, outro vocábulo)= δυνάμενος pres. part. de δυναμαι: poder, Ter o poder, ser poderoso, forte, capaz. O verbo tem a mesma raiz da palavra poder de At 1:8, “recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. Veja a diferença entre “apto” do início do verso e este segundo “apto”. é muito grande a diferença. Creio ser possível fazer a seguinte paráfrase:

“Jesus porém lhes respondeu: nem todas as pessoas estão de coração aberto e admitem receberem para si mesmos tal conceito... quem foi revestido com o poder de Deus para receber esta dádiva (este dom), que receba”.

Poderíamos ainda reler a partir do ponto de vista da responsabilidade humana e da soberania e predestinação de Deus, fazendo uma interpretação, segundo penso, dá a entender a paráfrase:

“Jesus porém lhes respondeu: é responsabilidade de cada um aceitar ou não, ter ou não vontade e buscar compreender ou não o conceito. Nem todos aceitam e portanto nem todos recebem o poder de Deus para viverem neste tipo de vida. Mas se você é vocacionado para receber esta graça de Deus e se Deus a tem derramado sobre você, então tome posse, viva sem medo e na fé”.

A BLH traduz assim, dando a interpretação do autor, pois é tradução dinâmica, que escolhe a interpretação e a dá, quase como numa paráfrase: “Jesus respondeu: Este ensino não é para todos, mas somente para aqueles a quem Deus o tem dado... Quem puder que aceite este ensino”.

Vamos às interpretações sugeridas :

Primeira interpretação:

Discípulos: Se esta é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar.
Jesus: Nem todos têm condições de entenderem este conceito de não poder divorciar-se, exceto em caso de fornicação, mas quem é revestido de poder para receber, que receba, isto é, que resolva se casar pela fé, confiando que Deus irá dar o poder de continuar casado.

Segunda interpretação:

Discípulos: Se esta é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar.
Jesus: Nem todos têm condições de entenderem este conceito de ser mais aconselhável ficar solteiro, mas quem é revestido de poder para receber, que receba, isto é que resolva, pela fé, nunca se casar.


Assim perdura ainda a pergunta: que ensino é esse que depende da dádiva de Deus para aceitá-lo ou vivê-lo? Trata-se do casado que, pela fé, receberá o dom de ser vitorioso e não chegar nunca ao divórcio ou do solteiro que recebeu o dom de ficar solteiro? Estou inclinado a aceitar que, neste caso, o Espírito Santo está relacionando as duas realidades (casado/solteiro) e aplicando nelas o mesmo princípio do revestimento de poder para vencer, pois é lógico que em todos os dois casos, é necessário poder de Deus para viver como Jesus deseja, pois isto significa viver o Evangelho e não se vive o ideal do Evangelho de forma carnal mas no poder do Espírito Santo de Deus. No entanto fica claro, depois do estudo do texto, que o assunto se refere, em primeira instância ao casamento mesmo. Os discípulos estão admirados sobre o conceito sobre o casamento e o fato de ficar solteiros é apenas um adendo dado por seu espanto. Jesus ao responder logicamente fala sobre o assunto todo, que é casamento, e não sobre um adendo feito, ficar solteiro.

Gardner escreveu em seu livro de Ética: “Se as leis sobre o casamento forem excessivamente rigorosas, estimularão a infidelidade, a falsidade e mesmo a prática deliberada daqueles atos que são reconhecidos como razões a justificar o divórcio. Para atingir-se o ideal cristão do casamento torna-se indispensável a fé cristã vital, não sendo prático nem caridoso forçar os que não possuem aquela fé a aceitar o ideal cristão in toto. Na Verdade, não é prático também, e nem caridoso, tentar impor a indissolubilidade aos próprios cristãos, visto que o que pode ser imposto pela lei não é a união genuína, permanente, monogâmica, mas apenas uma forma externa.”
Concluindo aí ficamos aceitando, portanto, que o ideal do casamento é o exigido pelo Evangelho, ensinado por Jesus como forma perfeita diante de Deus e ainda, forma original, mesmo antes de Moisés. Mas que nem todos irão conseguir porque não estão vivendo o Evangelho em sua plenitude, por não aceitarem o Evangelho ou por estarem sendo carnais, ainda que crentes. Assim sendo o ideal para o casamento, segundo Deus, deixa de ter seu cumprimento em muitos crentes

Capítulo 9 - Escritos Paulinos Sobre o Divórcio

Rm 7:2,3 - Ora, a mulher casada está ligada, pela lei, ao marido...

Calvino escreveu: “No se trata aquí de considerar ni decidir algo sobre el derecho matrimonial, el Apóstol no se há preocupado de pasar revista ordenadamente a todas las causas que colocan a la mujer en libertad, apartándola de su marido. Por eso sería locura buscar aqui a esta doutrina una solución verdadera”.

Em I Tm 3: 2 lemos que É necessário que o bispo seja... esposo de uma só mulher.Aqui, como fez Crisóstomo e Calvino, reconhecemos que é proibido ao bispo ser um polígamo. Deste texto se vê estabelecido a exceção à norma de que não é para o crente aceitar a poligamia. É considerado adúltero o crente que casar-se com outra mulher, mantendo as duas. No entanto, em alguns casos, em culturas diferentes, como era o caso da judia na época do apóstolo Paulo, quando se convertiam alguns homens já casados com várias mulheres a Igreja então deverá fazer a exceção, ainda que não deixe que tais homens sejam bispos ou que eles ou outros não polígamos venham, no futuro, usar desta exceção.

Paulo tem em mente a “angustiosa situação presente” (&: 26,29,30) e a vida promíscua dos coríntios onde era muito difícil ficar sem se casar tanto eram os oferecimentos mundanos para a promiscuidade.

A regra geral é :

a) Não é correto o conceito pagão de que o celibato é a única maneira de ser santo perante Deus;

b) Quem tem o dom de Deus para ficar solteiro que fique, mas quem não tem deve se casar;

c) O casamento entre os judeus era muito valorizado como ato de não ficar sem família e descendente, mas não como valor em si da união. Entre os gentios, especialmente numa cidade como Corinto, é que o matrimônio tinha muito menos valor ainda;

d) Os princípios de Deus existem e devem ser buscados de todo o coração, e Paulo aplica-os, na orientação do Espírito de Deus, à circunstância dos coríntios.

I Co 7:

Os “sem casamento” e os viúvos (7: 8,9).
Solteiros = άγαμος, palavra que aparece quatro (4) vezes somente no NT, formada do α privativo mais γαμος que significa casamento, bodas. Portanto aos não casados, que não se refere necessariamente aos solteiros virgens, que nunca se casaram. A palavra usada para virgem é παρθένος usada quinze (15) vezes no NT, tanto para mulher como para homem. A palavra άγαμος é usada somente neste capítulo, em todo o NT. Na primeira vez, verso 8, em que Paulo se coloca entre eles, provavelmente tendo sido casado, como dá a entender a sua biografia; no verso 11 que fala sobre a mulher que tenha se separado de seu marido que fique άγαμος (sem se casar) provado aqui que o vocábulo é usado para ambos os estados, o de virgem e o de descasado, principalmente unido com a tradução do verso 34, à frente. O outro lugar é no verso 32 que fala sobre o que não é casado poder servir melhor ao Senhor, dando a entender que poderia bem ser o virgem também, pois se aplica a todos, mas que não fica descartada de jeito nenhum a possibilidade de ser descasado ou divorciado, neste caso aqui até viúvo, por não mencionar este estado especificamente; finalmente a última vez que aparece é no verso 34 que deixa claro ser usado o termo άγαμος também para virgem. O texto em português une os vocábulos e acrescenta “viúvas” mas no original está assim: “Diferentes são a mulher (significando a que é casada, esposa) e a virgem (παρθένος); a não casada (άγαμος)(significando viúvas, virgens ou descasadas) cuida das coisas do Senhor...”

Os casados ( 7: 10-16 ) e o caso das “exceções”.

É interessante que Paulo dá a entender que se trata dos casais cujos todos os dois cônjuges são cristãos, diferentemente do outro texto a respeito do marido ou esposa incrédula (7:12-16) que ele começa dizendo “aos demais”. Vejamos a aplicação paulina ao contexto da Igreja de Corinto:

Não fala da exceção dada por Cristo, no caso de fornicação. Assim sendo está claro que, se Cristo deu uma exceção em Mt. , referindo-se aos judeus, ela poderia muito bem ser aplicada aos coríntios e se Paulo não falou notamos que está aberta a porta para exceções, pelo menos esta, a de Cristo. Cristo não cita aos judeus as exceções que Paulo citaria aos coríntios, por exemplo, de que poderia separar-se e casar novamente ( não ficar sujeito à servidão, segundo interpretação, por exemplo, de Leon Morris, em seu comentário ao texto) sem contudo cometer adultério. Então está claro que o ensino de Cristo poderia trazer outras exceções, pelo menos a de Paulo. Assim também em Mr. e Lc. não encontramos nem sequer a exceção de Cristo, dada em Mt. Então, suponhamos que alguém tivesse apenas o Evangelho de Lucas, em dado momento histórico, na Igreja do primeiro ou segundo séculos, pensaria não haver nenhuma possibilidade de exceções. Ao chegar em suas mãos o Evangelho de Mateus, a Igreja entenderia que havia a exceção da fornicação. Se fossem judeus poderiam pensar até ser apenas durante o noivado, pois teriam de apedrejar os adúlteros. Mas pelo sermão do monte de Mateus entenderiam que poderiam deixar de apedrejar e que o perdão estava acima de tudo. Depois chegaria em suas mãos I Coríntios e passariam a resolver outros casos insolúveis até então, como o de uma mocinha de 18 anos, que teria o Dom de se casar, estando a viver abrasadamente e sem poder se casar porque fora abandonada pelo marido incrédulo. Sendo assim a Igreja passaria a entender o espírito da lei, o princípio e cuidaria para que o mesmo fosse cumprido no fato de serem feito casamentos com bom senso e discernimento no Senhor e procurariam fazer de tudo para não haver separações e quando houvesse, para reconciliação. Quando não fosse possível, veriam se o casal agora separado estava capacitado, cada um em separado, a viver solteiro ou poderiam aceitar para eles novo casamento, não havendo outros meios, mesmo que tristemente reconhecessem que os mesmos não estariam agindo da maneira a cumpri melhor o alvo de Deus.

Capítulo 10 - Proposições Conclusivas - Primeira Proposição

O divórcio e novo casamento são bíblicos, apesar de não serem o ideal de Deus para a instituição do matrimônio.



Desenvolvimento.

Segundo temos visto na Palavra de Deus os princípios de Deus a respeito do casamento, divórcio e novo casamento, se corretamente aplicados, sugerem que, em primeiro lugar, o casamento como ideal no coração de Deus foi estabelecido para perdurar até a morte de pelo menos um dos cônjuges; em segundo lugar, o divórcio é aceito pelo Senhor Deus como uma saída para o impasse matrimonial. Esta solução existe por causa da imperfeição dos homens que, em face disso, nem sempre cumprem o ideal do coração de Deus; em terceiro lugar, o estudo da Palavra de Deus nos leva à conclusão que a palavra de Jesus a respeito da fornicação como causa única ao divórcio foi feita aos judeus em uma cultura específica, dentro de um código de leis específicas também, havendo aplicação do mesmo assunto de diferentes maneiras no Novo Testamento.

Gardner escreveu: “Não só deve a sociedade providenciar os meios para o divórcio em certas circunstâncias cuidadosamente examinadas, mas os cristãos, individualmente, também têm de enfrentar o problema, mesmo que estejam impedidos, sob quaisquer circunstâncias, de se divorciarem. Requer Deus deles, acima de qualquer outra coisa, seja qual for o caso, que mantenham indissolúvel seus casamentos? Respondendo, é preciso dar-se ênfase ao fatode que, em vista da vontade divina, todo divórcio, independentemente de suas “causas”, representa fracasso do casamento. O divórcio é “concessão à fraqueza humana” isto é, ao pecado humano. Demais, a despeito de tudo que se diz no processo do divórcio, é quase sempre verdade que as duas partes contribuem para o rompimento da união matrimonial. Daí ser o divórcio concessão à fraqueza de ambos, mas há “casos possíveis”, como declara Brunner, “em que não divorciar pode ser sinal de fraqueza maior e pode ser, mesmo, ofensa ainda mais grave contra a ordem divina (pg.290)".




Das aplicações do exposto acima ao Brasil, em nossa época.

a) O divórcio deve ser aceito pelas Igrejas que compõem o Corpo de Cristo.

A Igreja não deixará de pregar a Verdade por covardia, politicagem ou outras tentações. Ao contrario pregará a Palavra de Deus com fé, de tal modo que crerá que Deus é o Senhor doador e mantenedor da fé.

A Igreja que não prega a Palavra desta forma não tem coragem de pregar a predestinação com medo das reações errôneas, não pregando pela fé na soberania de Deus; nem tem coragem de pregar que na Bíblia não encontramos prova de que os dons espetaculares cessaram, fazendo exegeses que contrariam as normas da hermenêutica; nem tão pouco prega que o dízimo foi estabelecido por Moisés no Pentatêuco e não em Malaquias e que poderia ser usado de formas diversas e ainda interpretam erroneamente outros textos, com medo de cessarem os dízimos, não pregado a Verdade pela fé; o mesmo pode ser dito da covardia de se pregar que não é pecado beber bebida alcóolica, nem possuir porte de arma legalizado e muitas outras coisas eticamente duvidosas na pregação da Palavra de Deus inclusive o assunto principal em exegese como exemplo, nesta tese, o divórcio e novo casamento; encontramos muito mais abertura na Palavra de Deus do que se tem pregado oficialmente nas Igrejas, abundando os livros que contém somente um lado da moeda, não permitindo nem sequer a honestidade de se mostrar ao crente as interpretações igualmente aceitas por muitos doutores da Palavra, intérpretes que viveram nos séculos afora.




b) A responsabilidade e bom senso de quem mais recebe.

O cristão autêntico e que ama ao Senhor Jesus não verá nesta liberdade motivo para a desonestidade mas terá o discernimento e a responsabilidade que se espera de uma vida madura.

c) Cada caso um caso específico.

Cada ato, no que diz respeito ao divórcio e novo casamento, será tomado pela Igreja de Cristo como um caso específico e único, sendo nele aplicados os princípios imutáveis de Deus, com amor, carinho, respeito e bom senso.

d) Reconciliação, o objetivo supremo.

A busca fundamental da Igreja será a de levar os cônjuges à reconciliação, motivada pelo perdão e renúncias, fruto do amor sacrificial.


e) Respeito à decisão do indivíduo que tem liberdade de consciência e a usa com convicção e fé.

O indivíduo será respeitado em suas decisões e estas serão acatadas com respeito e amor de tal forma que mesmo estando teologicamente errado e mesmo que tenham de sofrer sanções disciplinares por parte da Igreja será dado o crédito ao indivíduo de que se crê que o mesmo esteja em paz com Deus por estar com convicção e fé no que faz. Este assunto, via de regra, ao contrário, tem gerado preconceitos e faltas graves contra os irmãos envolvidos e que pensam e crêem de forma diferente. É bom lembrar que muitos crentes foram queimados na Inquisição ainda estando com a consciência tranqüila e o foram por causa da consciência alheia!!

Capítulo 11 - Proposições Conclusivas - Segunda Proposição

Tanto a parte considerada inocente quanto a culpada não podem ser proibidos de casarem-se novamente.


Desenvolvimento.

Citando ainda Gardner, à pg.290: “Se a reconciliação com o cônjuge é impossível, é profundamente legalista negar à pessoa o direito de contrair novo casamento, desde que haja evidências de que tal pessoa tenha o firme propósito de estabelecer nova união realmente cristã e que haja sincero arrependimento quanto às causas que contribuíram para a desintegração da primeira. Quando tais condições são honestamente enfrentadas, surge a possibilidade de se realizar casamento cristão bem sucedido, pois tal pessoa tem condições de se fortalecer nas fontes da fé cristã, especialmente no perdão e no amor divino, para garantir a nova união desde o início e curar, sempre que necessário, os atritos naturais subseqüentes ao casamento. A palavra última de Deus, deve-se lembrar, não é julgamento, mas redenção e renovação, e um segundo casamento pode dar testemunho a favor desta possibilidade renovadora. O que foi dito não significa que o ideal cristão do casamento deva ser abandonado. Significa, ao contrário, que, perante um casamento desfeito neste mundo pecaminoso, o cristão está obrigado, de modo absoluto, a amar somente a Deus e o próximo e que tal amor pode conduzí-lo, mediante arrependimento e confiança no perdão e renovação de Deus, a buscar um segundo casamento. Significa para outros também, inclusive a Igreja, que deixar de levar em conta as necessidades humanas dos divorciados, suas necessidades biológicas e emocionais, sua necessidade de realização, o fato também de que “não é bom que estejam sós”, é tratá-los como “casos” antes que como pessoas. Esta falha denuncia, por si mesma, certo espírito de presunção e de complacência que não fica bem aos que pretendem ser motivados pelo ágape cristão”.

O erro que leva ao divórcio é um e deve ser tratado para haver reconciliação. Não sendo possível não nos parece, à luz do estudado, que a Igreja deva proibir o novo casamento, principalmente considerando o fato do texto em que Paulo diz que é melhor casar do que viver abrasado, segundo a exegese, pode muito bem ser aplicado aos descasados também. Pelo menos se não há força para dizer que não pode ser aplicado. Daí a conclusão é que:


a) A Igreja não deve encorajar a separação.

b) A Igreja não deve encorajar o novo casamento, mas buscar a reconciliação e levar o crente a buscar se tem o dom de ficar solteiro;

c) caso não consiga não pode obrigar o crente que tem liberdade de consciência e acha, de si mesmo, que está livre perante Deus para se casar novamente.


Das aplicações.

a) Para efeitos disciplinares devem ser considerados CULPADOS os cônjuges que:

(1) usam de motivos fúteis e não justificáveis, nos parâmetros Bíblicos, para a separação.
(2) Não atuam corretamente para com o pecado do cônjuge no oferecimento do perdão e na busca da reconciliação.

b) Serão considerados INOCENTES os cônjuges que:

(1) Estão separados mas não buscaram a separação, mesmo que a tenham provocado, do ponto de vista dos outros cônjuges.

(2) Buscaram a separação em caso de deserção escandalosa e/ou atos que coloquem em risco a integridade dos outros cônjuges ou de seus filhos, ou ainda em caso de situações morais escandalosas, não sem tentativas de reconciliação e perdão.


c) Tanto o INOCENTE quanto o CULPADO terá acesso a novo casamento, em caso de divórcio. Em muitos casos a Igreja orientará o contrário mas respeitará a decisão final do indivíduo. Tais decisões se firmam nos seguintes argumentos:

(1) Por mais claro que possa parecer aos líderes que julgam o caso, poderão haver evidências que são encobertas e que os cônjuges não desejam revelar, não sendo obrigados ao constrangimento, se assim o desejarem.

(2) O tribunal eclesiástico que exige aos cônjuges que contem os detalhes íntimos de suas vidas está incorrendo em grave erro de desrespeito ao ser humano e ao irmão em Cristo.


(3) Há crentes que têm o dom de Deus para permanecerem no estado de solteiros, mas há outros que não têm e portanto, nas palavras do apóstolo Paulo, " é melhor casar que abrasar-se".

(4) A escravidão ao regulamento de não poder haver novo casamento não é desculpada pelo fato de haver erros no passado do crente em julgamento. Por exemplo, alguém poderá ter errado em divorciar-se e vir a reconhecer o fato somente quando não mais for viável a reconciliação. Se for o caso de ser penalizado pelo concilio eclesiástico ,deve sê-lo pelo erro de separar-se indevidamente e não pelo fato de casar-se novamente.

Capítulo 12 - Proposições Conclusivas - Terceira Proposição

A Igreja precisa reconhecer-se culpada perante Deus por tantos divórcios que existem entre os cristãos e agir como a despenseira dos mistérios de Deus e como o verdadeiro redil das ovelhas de Cristo.

Desenvolvimento.

A Igreja tem combatido os efeitos e não as causas. É sumamente necessário que se faça juz à necessidade de orientar nossos solteiros. Jaime Kemp e outros têm ajudado muito mas esta tarefa não pode estar restrita a uns poucos pastores que se dedicam a isso. A Igreja precisa urgentemente de uma conferência mundial em prol do matrimônio onde sejam as Igrejas Locais e as denominações despertadas e preparadas (capacitadas) para esta parte da guerra contra os principados e potestades que tem perdido feio, feio!! Enquanto isso, têm lutado contra as pobres vítimas da incapacidade da Igreja e do diabo, com preconceitos, perseguições, destruindo a auto-estima de muitos e condenando muitos outros ao pecado real ou à falsa consciência de pecado, escravizados por homens e mutilados em suas vidas cristãs. Ao rever a exegese da segunda parte deste trabalho poderá ser notado que no mínimo a Igreja não tem tido a capacidade de lidar com o assunto e não tem tido, às vezes, tolerância com o que é tolerável e seriedade em não exigir quando o texto bíblico deixa dúvida, etc.


Aplicações.

a) Considerações escatológicas.

Erra a igreja do Senhor Jesus que, no geral, não compreende o tempo em que vivemos e a situação cada vez mais difícil no final dos tempos. Vivemos num ambiente muito pior que o dos coríntios, do ponto de vista do mundanismo, segundo vejo. Nossos filhos estão numa Sodoma e numa Gomorra escatológica onde bastam abrir a porta ou uma das janelas de suas casas (a TV principalmente, como a janela para o mundo, as revistas, os Oudoors, etc) e verão com as filhas de Ló, o pecado proliferando. Temos de buscar maturidade para vermos os nus e tudo que se nos apresenta sem nos contaminarmos, sabermos usar o que existe para nosso prazer, com cuidado de não extrapolar os limites, buscando a vida de santidade, que não é uma vida ascética imposta a nós mesmos e a nossos filhos, mas participativa e com equilíbrio.


b) A mulher emancipada e o feminismo.

Erra a Igreja do Senhor Jesus quando não discerne a nossa época e vê que Jesus iniciou a libertação da mulher. E que o feminismo tentou usurpar isso e ainda que a Igreja teve o privilégio de ser a autora da continuidade desta libertação. O mundo e o diabo têm oferecido à mulher crente opções erradas em sua nova vida. A família do século 20, a esposa, a mãe, o filho e o esposo são muito diferentes. É uma diferença que causa medo, constrangimento, insegurança em muitos casais, em muitos pais e em muitos filhos. Temos na Igreja a cultura vetero-testamentária, com preceitos avançados do NT para o ideal perfeito de Deus para a vivência doa Evangelho, mas não sabemos aplicar isso. Temos falhado. A maior parte das Igrejas no Brasil são de origem em movimentos que não deram muito valor à exegese, à hermenêutica e à objetividade da Palavra de Deus. A Igreja evangélica brasileira tem pregado segundo pensam seus pregadores e não segundo pensa Deus; segundo interpreta o povão, e não segundo interpretam os doutores da Igreja; a teologia é popular, cheia de crendices e superstições que levam à práticas quase mágicas de consultas e buscas misteriosas de revelações sobre assuntos que não podem mais receber novas bases sem ser isso considerado maldição!!

Capítulo 13 - Resumo da Exegese

1. Todas as famílias estão sujeitas às mesmas aflições e problemas da vida: morte, separação, divórcio. Também estão sujeitas ao pecado.

2. Os casais crentes têm à disposição os dons e as promessas de Deus que lhes permitirão possuir vida vitoriosa em Cristo, sem chegarem à separação ou ao divórcio.

3. Deus realmente cuida de nós e proporciona-nos a plenitude de Suas bênçãos.

4. Foi Deus que criou o matrimônio. Uniu um só homem a uma só mulher

5. A instituição de Deus não foi feita para ser alterada: Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem, Mt 19:6.

6. Deus aplicou em diferentes épocas sua tolerância a algumas mudanças do plano original. Jesus sugere que é melhor buscar o plano original - Mt 19:4.

7. O casal precisa de Deus , ser crentes. Exercitarem fé específica dele, fruto da fé individual de cada cônjuge, e não viver pela fé de outros.

8. Precisam vivenciar o fruto do Espírito Santo.

9. Reconhecem que têm impulsos humanos normais e devem buscar o domínio próprio (ainda o fruto do Espírito).

10. Precisam cuidar devocionalmente de suas vidas: estarem em plena comunhão com Deus e receptivos a Deus.

11. Devem conhecer de fato que Deus cuida deles.

12. Devem ser obedientes, quando sabem que é a vontade de Deus, mesmo que seja difícil demais e algo totalmente fora da lógica humana, como José ao ver Maria grávida e como Maria ao ouvir algo aparentemente ridículo do anjo.

13. Devem tratar o sexo com dignidade e somente se absterem da cópula sexual após o casamento em casos muito especiais e de acordo com o Senhor Deus, sabendo que não pode ser interrompido para sempre: enquanto não deu à luz um filho, Mt 1:25.

14. A vontade de Deus pode ser cumprida pelo casal crente e o ideal do relacionamento é possível, porque o poder vem de Deus e não do homem.

15. O caminho sobremodo excelente que conduz o casal à vitória é o AMOR, na definição mais sublime que existe sobre ele, o amor de I Co 13.

16. Todo problema tem sua resolução garantida em Cristo, nem sempre de acordo com nosso coração. Mas Deus é soberano e cheio de amor e tem para nós o melhor.

17. Jesus ensina o ideal supremo de Deus e não dá uma lei absoluta que proíba o divórcio e novo casamento. Assim sendo as exceções são dadas na ordem seguinte:

a) Marcos e Lucas mostram o ideal para o casamento e não cita exceção.

b) Mateus cita a exceção da impureza, provavelmente antes do matrimônio, não citando “adultério” mas “fornicação”, podendo ser aplicada, segundo o uso da palavra ao adultério também, a menos que leve em consideração que o adultério seria combatido com a morte do cônjuge, segundo a lei na época de Jesus.

c) Paulo cita a exceção de quem foi abandonado por ser cristão.

d) E que o “sem mulher” (solteiro, viúvo, divorciado) não deve ficar sozinho se não tem o Dom.

e) O NT ainda mostra que o ideal é a monogamia, mas é tolerável a poligamia, principalmente nos casos em que os servos se converteram após estarem casados, em culturas que dão respaldo a isso em suas legislações. No entanto, como não é o plano ideal de Deus, tais homens não podem ser bispos.

18. Não é correto o conceito pagão de que o celibato é a única maneira de ser santo perante Deus; quem tem o dom de Deus para ficar solteiro que fique, mas quem não tem deve se casar;

19. O casamento entre os judeus era muito valorizado como ato de não ficar sem família e descendente, mas não como valor em si da união. Entre os gentios, especialmente numa cidade como Corinto, é que o matrimônio tinha muito menos valor ainda.

20. É possível e necessário aplicar os princípios exauridos dos mandamentos de Deus, em qualquer época, a cada caso, de forma única e específica.

21. O cristão maduro não irá se aproveitar das exceções, mas procurará, quanto maior for sua maturidade, viver o Evangelho em sua plenitude, isto é, vivenciar o ideal de Deus e não as exceções, em todos os parâmetros da vida cristã.

22. A Igreja tem sido culpada pelos erros exegéticos e por não oferecer o melhor aos seus membros. Assim a maturidade citada à letra b não é comum quanto deveria ser na Igreja de Cristo.

23. As denominações estão errando quando impõem absolutamente as suas interpretações dos textos da Palavra de Deus, de forma que o membro não possa vivenciar a fé que tem, mas vive erradamente pela fé dos outros.

24. Os concílios e assembléias das Igrejas locais têm errado quando não agem com misericórdia e assumindo sua própria dificuldade para ensinar certos assuntos difíceis.

25. A Igreja de Cristo no mundo precisa se unir em um esforço que poderá ser realizado em todas as esferas do que tem sido entendido por Cristianismo, para levar os cristãos a amadurecerem no que diz respeito aos temas éticos e práticos da vida cristã.

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